Topo

Vítimas do metrô de São Paulo criam associação e pedem indenizações de até R$ 50 mil

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em São Paulo

18/05/2012 15h17Atualizada em 18/05/2012 15h40

A Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo (Acrimesp) anunciou nesta sexta-feira (18) a criação de um grupo representativo formado por pessoas que se lesionaram no acidente envolvendo duas composições da linha 3-vermelha do metrô de São Paulo, há dois dias, na zona leste da cidade.

Segundo o advogado Ademar Gomes, que representa a Acrimesp, o objetivo do grupo é cobrar do governo do Estado indenizações "de acordo com as sequelas individuais". Os valores podem variar de R$ 5.000 a R$ 50 mil. Além disso, em casos de danos materiais, também serão protocolados pedidos de ressarcimento.

"Já conversamos com pelo menos 50 vítimas do acidente. Essas pessoas foram prejudicadas de diferentes formas: temos uma senhora que quebrou as duas pernas, por exemplo, gente que está com o corpo todo enfaixado", afirmou Gomes.

Um dos membros da nova associação é Jonas Pereira dos Santos, 21, que acabou perdendo uma oportunidade de emprego por conta do acidente. A vítima estava no segundo vagão da composição que seguia no sentido Palmeiras-Barra Funda.

"Depois de parar várias vezes, ele [o trem] acelerou com força até bater no trem da frente", relatou Santos. Em função do impacto, o jovem teve vários hematomas pelo corpo, e a mais grave é uma fratura no joelho direito, o que pode aumentar o valor de uma possível indenização.

"O médico disse que houve uma lesão por dentro da musculatura do joelho. Mal consigo andar", disse ele.

Falha no circuito

O secretário de Transportes, Jurandir Fernandes, confirmou que o acidente foi provocado por uma falha no circuito eletrônico da linha, que é responsável pelo controle da velocidade.

Segundo o presidente do sindicato dos metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior, o maquinista relatou que, enquanto o trem estava em movimento, o circuito emitiu um alerta de acelerar em vez de frear ao se aproximar da outra composição, que estava parada nos trilhos. O maquinista então operou o trem manualmente para freá-lo. Segundo Prazeres, toda composição do metrô conta com o sistema automático que, ao registrar a distância de 150 metros entre o próximo trem, aciona o freio --o que não aconteceu. Ainda segundo o sindicato, uma falha mecânica no sistema foi relatada horas antes da colisão entre os dois trens.

Uma comissão de segurança foi nomeada para avaliar as causas da falha que causou o choque.

Ministério Público vai investigar o caso: as promotorias do Consumidor e do Patrimônio Público e Social instauraram os inquéritos. Um promotor criminal ainda foi designado pela Procuradoria-Geral de Justiça para acompanhar as investigações da Polícia Civil sobre o acidente.

Maquinista desabafa

O operador de metrô Rogério Fornaza, 29, disse em entrevista ao jornal "SPTV", da TV Globo, que havia sido informado pelo Centro de Controle de Operações (CCO) do Metrô sobre a restrição de velocidade na linha vermelha, onde colidiram dois trens entre as estações Carrão e Penha, na zona leste --um deles operado por Fornaza.

“Eu fiz o meu serviço, eu estava ali --e, numa emergência, a gente está ali para atuar”, afirmou.

Fornaza operava a composição que atingiu outra, que estava parada nos trilhos. Operador desde janeiro do ano passado, ele disse, na entrevista, que saiu da estação Itaquera, na zona leste, e sentiu que algo estava errado quando no momento em que avistou a composição à frente, parada, o sistema automático não freou. “Quando era para iniciar a frenagem, o trem acelerou, só.”

Linhas de investigação

A Polícia Civil de São Paulo vai apurar se o acidente configura crime de lesão corporal culposa (sem intenção) ou de desastre ferroviário --previsto no Código Penal. A hipótese de sabotagem será investigada, de acordo com o titular da Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), Valdir Rosa. Contudo, ainda não há indícios para esta hipótese.

“Vamos aguardar a perícia nos trens e também que as vítimas compareçam para depor, ainda que com apenas uma delas depondo já seja possível mover uma ação penal, posteriormente. Também queremos ouvir o diretor de operações do Metrô, saber a explicação da empresa para isso, antes de concluir se o acidente foi um caso de lesão corporal culposa ou de desastre ferroviário”, declarou o delegado.


Acidente

A colisão entre dois trens da linha 3-vermelha do metrô de São Paulo deixou dezenas de pessoas feridas entre as estações Carrão e Penha, na zona leste de São Paulo. Com ferimentos leves e médios, elas foram encaminhadas a hospitais da região.

No total, a Secretaria Municipal de Saúde afirma que foram atendidas 103 pessoas, entre feridos e pessoas que passaram mal. De acordo com o balanço final do Samu e do Corpo de Bombeiros, 49 pessoas foram atendidas com ferimentos --a maioria tinha escoriações.

Segundo relato de usuários que estavam nos trens, houve uma “aceleração inesperada” das composições e um “forte estrondo” antes de um trem bater na traseira do outro.

Com o choque entre as composições, usuários acionaram o botão de emergência dos trens e deixaram os vagões pelas laterais. Alguns quebraram os vidros para poder sair.